A morte do Facebook

A rede social de Mark Zuckerberg está morrendo? Ou já morreu? Até há pouco tempo onipotente e capaz de aproximar pessoas com interesses semelhantes e determinar o sucesso (ou fracasso) de relacionamentos ou, até mesmo, o resultados de eleições federais, o Facebook apresenta sinais de que seu atual modelo de negócio e comunicação aproxima-se de um fim.

Por Fabio de Paula

O pêndulo da história também se aplica aos hábitos de consumo e, por que não, ao uso das redes sociais. Um exemplo é o Facebook que, em novembro de 2017, anunciou que havia atingido a marca de 2,07 bilhões de usuários. Três meses depois, a rede social revelou que, no quarto trimestre do mesmo ano, perdeu um milhão de usuários nos Estados Unidos e Canadá e teve uma queda expressiva no número de acessos.

Na mesma ocasião, seu criador e principal proprietário, Mark Zuckerberg, adotou uma série de mudanças no algoritmo que determina o padrão de exibição de postagens na timeline dos usuários da rede. Em vez de priorizar as postagens de páginas pagas, o Facebook voltou a exibir as postagens de pessoas e páginas cujo conteúdo é desejável para o usuário, seja ele pago ou não.

Essa mudança não se motiva apenas pela queda do uso e do tempo gasto pelos norte-americanos no Facebook. A rede, que ainda é a mais usada no planeta, dá claros sinais de desgaste, em um movimento de queda que parece ser definitivo. No Brasil, por exemplo, usuários pertencentes a classes sociais e faixas etárias específicas parecem buscar alternativas para a plataforma de Zuckerberg, em um comportamento que não é de hoje.

O Snapchat é uma prova disso — a rede de postagem de vídeos instantâneos e voláteis teve um boom de uso entre 2014 e 2016 que pareceu anunciar o princípio do fim da hegemonia do Facebook. O plot twist dessa derrocada, porém, foi a adoção pelo Instagram (que pertence justamente a Zuckerberg) de um modelo de exibição de vídeos semelhante, atraindo seus usuários e reduzindo a relevância do concorrente.

Comprovando, aliás, que nada é eterno, especialmente no território digital, e que o mercado financeiro é altamente volátil, o Snapchat recentemente perdeu, em um único dia, mais de 1,7 bilhão de dólares na bolsa de valores de Nova York. Seu declínio foi catapultado por um tuite de Kylie Jenner, jovem de apenas 20 anos que pertence à família de celebridades Kardashian. A postagem selou, no mercado de ações norte-americano, uma perda de 7% do valor da empresa.

Pois é justamente o modelo de exibição de conteúdo que parece ditar o movimento de ascensão e queda de uma rede social. Foi assim com o Orkut, no passado, e é assim com o Facebook, cujo padrão de informação parece menos adequado para a comunicação atual do que o Instagram.

Muito além do fato de que essa mudança de reinado mantém Zuckerberg no poder, o que ocorre é a comprovação de que há uma transformação contínua no interesse dos usuários e, portanto, do tipo de uso que uma rede social tem a oferecer. Se antes as pessoas queriam ler os testemunhos e mensagens em fundo magenta do Orkut, elas passaram a querer acompanhar o compilado de blogs de pessoas, empresas e instituições em moldura azul que é a essência Facebook. Agora, porém, se assiste à rápida transferência de interesse dos hard users das redes sociais pelo universo visual e imagético de cor neutra do Instagram.

Pergunto a meus mais de 700 alunos de graduação, com idades entre 19 e 22 anos e pertencentes às classes A e B, se eles usam o Facebook com frequência. Menos de cinco por cento responde que sim. A esse mesmo grupo, questiono quem usa o Instagram e, mais ainda, quem gosta do Stories (o campo do Instagram para compartilhamento de vídeos de até 15 segundos), e o resultado é o oposto: somente cinco por cento deles não usam o Instagram.

Os motivos são muitos, todos eles chancelados por esse mesmo grupo de estudantes. Há um consenso de que já não há tanto interesse em saber o que os amigos pensam ou gostariam que se soubesse. Dessa forma, há uma queda da relevância das postagens de terceiros com links de notícias, álbuns de fotos ou textões. E esses são, justamente, os principais tipos de postagens que o Facebook oferece.

Além disso, esses mesmos alunos que anunciam o fim do Facebook lembram que, para os interessados em ler e escrever textos curtos, o Twitter é muito mais funcional. Cabe lembrar que esse mesmo Twitter já teve sua morte anunciada, o que não ocorreu, muito embora ele tenha perdido seu protagonismo entre as redes sociais. Os motivos são muitos: para uma geração acostumada e, portanto, refém dos diferentes tipos de cyberbullying, o Twitter é um território mais seguro do que o Facebook, além de mais conciso e objetivo.

A primeira resposta, porém, que tais alunos apresentam quando questionados sobre os motivos para a decadência do Facebook é o excesso de postagens comerciais. Para eles, mesmo que o algoritmo volte a privilegiar a exibição de postagens não pagas de pessoas e páginas, dificilmente as pessoas voltarão a usar o Facebook com a mesma frequência de antes. A razão para isso é justamente o próprio desgaste dos tipos de postagem e mapa de interações que a rede de Zuckerberg oferece.

A enxurrada das assim chamadas fake news e a incapacidade do Facebook em filtrar notícias falsas são também fatores para essa repulsa de seus usuários. O conflito que surge por conta dessa babel de informações fica evidente no recente anúncio do grupo Folha, uma das maiores empresas de comunicação do Brasil, de não mais compartilhar seu conteúdo no Facebook.

Além disso, tornou-se cada vez mais comum a presença nefasta de perfis fakes e bots, sobretudo, no Brasil, a partir das eleições de 2016 quando se verificou a importância das redes sociais nos próprios resultados do pleito. Não parece haver uma solução por parte do Facebook para a presença massiva de perfis falsos que, quase sempre com um propósito ideológico de viés indistinto, interagem no campo de comentários de notícias com grande visualização. É assim tanto no Brasil quanto no resto do mundo.

A política, aliás, é um dos territórios de interação que catalisou e segue catalisando o declínio do Facebook. Uma espécie de ágora para discussões de interesse coletivo – o que, indubitavelmente, é uma de suas maiores virtudes – a rede social acabou por se tornar um campo de batalha entre pessoas de um mesmo círculo social, mas com opiniões políticas diferentes.

O textão, o public shaming e a intensa movimentação dos justiceiros virtuais, mesmo que com uma eventual finalidade de construção de diálogos e eliminação de injustiças, acabaram por afastar a maior parte dos usuários do Facebook, mais interessados em compartilhar fotos e vídeos de momentos felizes, gatos e cachorros, comidas e viagens, namoros e selfies. Para isso, o Instagram parece ser bem mais funcional.

Nesse ininterrupto e mutante fluxo de interesses dos usuários das redes sociais, enfim, resta saber se o crescente desinteresse pelo Facebook é definitivo e, mais ainda, se o levará a um fim ou, apenas, a um irreversível papel de coadjuvante.

Imagem: reprodução Newsweek.

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